segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CARTA AOS AMIGOS MORTOS

Nos últimos tempos foram-se embora alguns amigos muito queridos. Tenho-me recordado muito deste poema da nossa grande Sophia.




CARTA AOS AMIGOS MORTOS

Eis que morrestes – agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
- O olhar não atravessa esta distância –
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar em frente
Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil.

Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela me ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.

E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e de meu canto.


2 comentários:

Mar Arável disse...

Não deixemos morrer

os nossos mortos

DM disse...

De Luís Veiga Leitão

OS GRANDES AMIGOS

São como as árvores
de grande porte.
Quando elas partem
as raízes ficam
aquém da morte