domingo, 15 de novembro de 2015

JOÃO CABRAL DO NASCIMENTO (1897 - 1978)

Madeirense, poeta raro, ausente do barulho da fama, a sua obra é de um inexcedível prazer de leitura.

“… graças à arte requintada com que trabalha o verso, Cabral do Nascimento atinge em muitas das suas composições uma simplicidade, uma sageza, um desencanto, um doloroso fruir dos efémeros frutos da vida, características que lhe dão o direito a que o consideremos um dos mais altos poetas da sua geração.” João Gaspar Simões dixit.




REDONDILHA


Sobre os rios e ribeiros

Que por esses vales vão,

Pus um barco de papel.

Os desejos vogam nele,

Que as palavras essas não.




E quando as águas encontram

As suas irmãs do mar

E se misturam, aos beijos,

Vão para o fundo os desejos

As penas sobem ao ar.




Desejo, dor e saudade

São companheiros. Depois

Morre primeiro o primeiro,

Ainda ás vezes solteiro,

Ficam só os outros dois.



1 comentário:

Mar Arável disse...

A incomensurável simplicidade

Abraço